Escolas participantes do Sapateia Recife - CaroLemos Dançart
- Mari Frazão
- 11 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
A dança é uma paixão tamanho família para Carol Lemos
Por Mari Frazão (reportagem realizada pelo JC)
Em um casarão cor-de-rosa, nos Aflitos, Zona Norte do Recife, o amor pela dança clássica edifica três décadas de resistência. A bailarina Carol Lemos e os filhos Élemer e Ana Elena Janovitz arregaçam as mangas para dar vida a espetáculos e repassar seus conhecimentos para futuros dançarinos. A herança artística, transmitida de geração em geração, é o que mantém vivo o trabalho da CaroLemos Dançarte, concebido às custas de suor e criatividade.
“É difícil se sustentar quando você sobrevive com o que a dança lhe oferece, sobretudo em um País que não dá o devido valor à arte”, lamenta Carol. Além disso, família comenta como é difícil driblar preconceitos e atrair meninos para as salas de aula: “Nossa cultura é segmentadora: ainda no colégio, as crianças aprendem que menino deve jogar bola e só as meninas podem dançar”, comenta Ana Elena.
A ausência de homens na companhia torna ainda mais difícil a produção dos espetáculos, uma vez que a postura masculina é necessária para dar suporte aos saltos e giros das bailarinas. O preconceito que afasta os rapazes dos tablados de dança remete ao filme Billy Elliot (2000), de Stephen Daldry, que mostra o personagem-título, um talento nato para dança, sendo obrigado pelo pai a treinar boxe. “Esse filme deveria fazer parte da ementa dos professores nos colégios. Na história, o menino se dedica à dança mesmo escondido, mas quantos garotos nem experimentam tentar por medo da sociedade em que vivemos?”, questiona a dançarina.
Apesar das dificuldades inerentes ao meio artístico, a família não perde o brilho no olhar nem deixa a peteca cair. Como uma gangorra, se impulsionam mutuamente, e até as pequenas conquistas são grandes vitórias. Há dois anos, Ana Elena largou sua escola de dança, em Olinda, para dar apoio à de sua mãe. Ali, cria, estuda, roteiriza, divulga: o trabalho é múltiplo. O irmão empreende seu tempo na parte administrativa da empresa, mas não poupa pitacos nas artes que estampam panfletos e cartazes.
Para Carol, os conselhos do filho são valiosos: “Ele está sempre atento aos mínimos detalhes”. As duas brincam que, para a participação de Élemer ser completa, só faltava dançar e atuar nos espetáculos. Já a titular da companhia se envolve de corpo e alma nas produções: faz a coreografia, produz, dirige, borda figurinos, delegando a terceiros apenas funções mais técnicas, como som e iluminação.
Carol salienta que o trabalho gira sempre em torno da aproximação com os interesses do público. “Procuramos elementos que sejam nossos e, ao mesmo tempo, despertem a curiosidade de cada pessoa que ocupa um lugar da plateia.”
Em uma época em que as tecnologias são praticamente extensores do corpo humano e quase tudo pode ser acessado ou resolvido de dentro de casa, as produções são pensadas detalhadamente para oferecer algo mais. “Apresentar um material que contribua com a cultura da nossa cidade, além de gratificante, é uma forma de reeducar as pessoas e ensiná-las a gostar da dança”, pontua. Durante a infância, os dois irmãos sempre estiveram envolvidos nesse universo artístico. “Acompanhávamos nossa mãe nas aulas. Crescemos escutando música clássica. Fomos educados assim”, relembra Élemer.
A menina calçou as sapatilhas desde cedo. Quando já se dedicava a uma carreira no balé, um acidente tirou Ana Elena da dança: “Foi praticamente um estigma, por eu ser filha de bailarina e querer tanto estudar”. A moça recorda o episódio como um momento superado: depois de sessões de fisioterapia, assumiu profissionalmente papéis importantes, como Mercedez, no espetáculo Don Quixote e o papel principal em La Fille Mal Gardée. Ao longo dos anos, também trilhou seu caminho na dança contemporânea.
Durante estes 31 anos de estrada, muitos bailarinos já passaram pelos salões e cuidados da CaroLemos Dançarte – como o coreógrafo e professor Ivaldo Mendonça, que colhe frutos também em carreira internacional. Atualmente, a escola ensina a cerca de 200 alunos, uma parte dos quais sobe ao palco do Teatro Guararapes, amanhã, às 19h. Em um evento realizado anualmente por bailarinos profissionais e alunos da companhia, será apresentada uma montagem de balé clássico, jazz e sapateado.
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